terça-feira, 13 de maio de 2014

PUNK ?

Bom, vamos lá desabafar no blog que não existe prá ninguém... talvez nem prá mim, pelo que eu escrevo nunca aqui. Lembro vagamente do sermão de minha querida mãe indo até ao Juizado lá no Jabaquara. A tônica era: ' Não tenho mais como lidar com isso etc...' Saí de lá do Juizado de Menores com uma autorização que me 'emancipava' para poder viajar prá todos os litorais. Eu ainda estava ressentido de ter voltado prá São Paulo depois de morar um tempo em Santos e São Vicente. Aquele lugar me fazia um bem danado e toda a minha rotina praiana me fazia inconformado com o ar de SP. Nem tinha tempo de tocar violão ou guitarra, pois minha mãe havia se desfeito dos instrumentos etc e tal, pois eu tentava pegar onda, andava de skate o dia inteiro, fazia karatê com meu sensei fodão Tony, mergulhava e curtia meu primeiro amor, carnal inclusive, que bagunçou um pouco meu coração e comportamento. Minha mãe na correria sempre deixava claro: Quer uma prancha nova, quebrou o truck, sai da praia e vai trabalhar.... Nessa volta a SP tive que dar o skate prá um, bike prá outro e depois, muito relutante, dar minha Pedro Rabelo que ficava prá lá e prá cá na área de serviço. Meus chapas coreanos de Sampa que tinham família aqui, Yong e Dong, herdaram a amarelinha. Aqui na capital a tônica não mudou muito... só que agora era Mobylette, Garelli etc... e minha mãe mandava eu correr atrás. Eu não estava muito afim de estudar e ia na marra. Meu lance era trampar e ter meu dinheiro prá comprar o que pegava aqui no novo ambiente. Ganhei outro violão prá vir se aquietava, mas mancomunado com meu primo mais velho, Ricardo, sempre que arrumava uma grana de serviço se mandava prá Maresias. O movimento punk estava efervescendo e eu até ensaiei em me envolver com uma galera da Barra Funda, mas não rolava pois achava que o pessoal não tocava nada, que era uma verdade, e estava mais interessado em minha guitarra, já que a maioria nem tinha. Como eu não arrumava trabalho, eu estudava minha paixão eterna que era violão, como um louco. Influenciado pelo Oswaldo, que estudava no Colégio Batista, comecei a estudar Chico, Djavan etc... Fomos morar nas Perdizes numa pensão de moças de vida fácil e era um ambiente legal, pois era de correria, que era minha pegada e eu me dava bem com as meninas. Comecei tocar no Gruta, um barzinho minúsculo da Turiassú com Monte Alegre e comecei a tocar MPB, pois eu tirava um pro maldito cigarro e comia algumas. Tentei meio discretamente me envolver com o pessoal, pois eu curtia muito o som, mesmo o pessoal tocando tudo torto. Me impressionava a rebeldia e a mensagem que refletia bem o aperto que eu estava passando. Naquela época dos capacetes azuis SP, num dos rolês, tomei uma espadada de graça da cavalaria, perto da São Bento e me desiludi de vez num envolvimento de banda. Banda prá mim sempre foi sinônimo de amizade. Enchi o saco do Pierre, do Cólera, prá gente fazer um som, mas o lance dele era punk rock mesmo. Ele nem deve se lembrar da casa velha da Paraguassú onde eu morava. Eu frequentava o Palmeiras com uns cabeludos desocupados como eu, Humberto, Sgotch, Leandro, Quitanda, Magrão e cia, e naquela época já estava rolando uns estranhamento do povo black com a gente na domingueira. Aí estava o marco da 'divisão' nos bailes. Meu interesse era sempre a mulherada e eu ia prá rolês distintos, como Sesc Interlagos etc... Com a aproximação do serviço militar obrigatório, que eu servi de ponta a ponta e ainda fui obrigado a enganjar mais uns quatro meses, a situação apertou a ponto de eu ter que trabalhar com meu avô, que era linha dura prá cacete. Eu estava indignado como a maioria da juventude com aquele cenário medonho de fim de ditadura, mas ainda nefastamente presente e atuante, porém não podia abandonar meu moto de me virar e ter minha grana. Como frente de luta individual eu não cabia muito na galera. Tirei atestado de pobreza, era arrimo de família, mas não teve jeito: tive que penar em bicos por causa desta época do quartel se aproximando. Até de engraxate no salão Marília eu trabalhei. Mais periferia, mesmo morando nas Perdizes (quem frequentou minha casa lá sabe do que eu estou falando)do que eu impossível. Sem grana, sem estudar, sem perspectiva, ainda arrumava tempo de tomar uns Opitalidons com vinho, ou uns Artanis, removedor de esmalte de unha, e ir prá frente da Fofinho trocar porrada com o pessoal. Minha fase punk se resumiu apenas nisso. Comecei a beber e a fumar, o que me afastou de vez da fase esportista e sensacional que eu vivi na baixada. Em tempo: Relendo este velho post eu resolvi colocar um dos verdadeiros motivos de hoje eu não ser lembrado por ter feito parte da cena, musicalmente falando. Eu comprei com muito custo minha primeira stratosonic e um ampli tipo os Gianinnis, mas era um Epiphone made in Califórnia! A verdade crua é que eu não gostava de emprestar meu setizinho de jeito nenhum. A tônica na época era descolar uma aparelhagem para fazer uma festa e todos usavam a mesma aparelhagem... na boa, não me sinto frustrado por não ter feito parte de uma banda punk porque este meu sentimento egoista era verdadeiro, coisa que tentei corrigir mais tarde e me arrependi: tudo que emprestei na vida me devolveram fodido. Segue o post... Tocar em barzinhos no Bexiga e em qualquer boteco me supria de dinheiro (pouco) e de mulher (muito). Tanto é que quando saí do quartel (servi 84/85) corri atrás de terminar meus estudos e trabalhar. Nessa época conheci minha primeira esposa, com que me casei em 86, e sepultei meu lado punk. Limitava-me a pegar a moto e ir com ela no Ibirapuera ou em qualquer buraco que tivesse uma banda punk com extensão puxada do poste fazendo um som. Tempos depois conheci o Fernando, da Bossa Nova Discos, que me abastecia desse material gringo que sempre mexia com meu lado 'revoltado'. Hoje tenho esse gosto amargo de não ter participado efetivamente de um movimento que foi importante demais prá mim, mas insuficiente prá me fazer andar em bando. Só conheci pessoas bacanas, menos o Pipoqueiro ( queria me dar uma pregada na bunda com o canivete por tê-lo chamado pelo apelido, pois ele não me considerava punk). Eu tocava mais que o pessoal e não andava no visu. Tenho certeza que era porisso. O máximo era um boton do Exploited... E mesmo entre alguns que só se aproveitavam da 'moda' do movimento, trago boas e firmes lembranças de uma época em que a molecada era mais atitude e menos bunda. O que se encontra muito hoje: uma galera que curte punk rock, mas não sabe o que significa. Não tem como não arrepiar a pele uma boa festa punk. É isso aí.